domingo, 9 de março de 2008

Capítulo 8.

8:1) “Ah! Se fosses meu irmão, amamentado aos seios da minha mãe! Encontrando-te fora, eu te beijaria, sem ninguém me desprezar;”

8:1) Simboliza que ao despertar para a espiritualidade, a mulher percebe haver alguma dificuldade em direcionar o seu noivo para a percepção realista do existir, que abrange caráter profundo, porém, simples, posto calcado na naturalidade. Há nesse verso o simbolismo requerido para demonstrar que a mulher almejava ser amada extrínseca e intrinsecamente, evidenciando haver reconhecido a sua qualificação íntima, conotada da pureza, que almeja ser correspondentemente reconhecida pelo homem. Dessarte, ao relacionar-se amorosamente com o seu noivo, pressente que, enquanto o homem não reconhecer o Amor de Deus, a plenitude dessa sua nova conduta e postura será incompreendida, aliás, por todos (“eu te beijaria sem ninguém me desprezar”). A intimidade que busca vivenciar com o seu noivo, extrapola o limitado amor carnal, que representava até então o que interessava ao homem, daí a sua exclamação, (“Ah! Se fosses meu irmão”). Pois, o “amor”, quando assim “entendido”, apenas carnal, resulta em ciúme e posse, não sendo como o verdadeiro amor, que é integralmente doador, por ativar-se tendo como objetivo o bem estar e a felicidade do ente amado. Porquanto, aquele que verdadeiramente ama, somente pensa e age no sentido de agradar o ente amado, não pensando em si próprio. Resultando em que, havendo um verdadeiro e mútuo amar, haverá um doar-se, de ambos, havendo então um intercâmbio, ambos também recebendo, embora nenhuma das partes haja pretendido receber, mas, sim, apenas doar-se.


8:2) “eu te levaria, e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me iniciarias; dar-te-ia a beber vinho perfumado e licor das minhas romãs”.

8:2) A mulher assume a sua condição de pureza plena, passando a ver no seu noivo aquele de quem pretende cuidar, mas não na condição de apenas um companheiro na Terra, ou de investir-se da condição de uma fonte de prazeres carnais, mas, sim, almeja a plenitude de um viver integral, pleno, co-participativo, íntimo, mas, no seu sentido maior, posto manter em vista que, juntos se complementam, cumprindo o almejado desenvolvimento.

“Iniciarias”, indica uma existência adequada à propositura magna, equivalendo a um reiniciar, posto revelar-se renovado ante a anterior visão do existir, a intelectiva. Então, sob o mais profundo aspecto do existir, aquele que considera em primeira linha o espírito; surge o seu empenho em lograr o reconhecimento e a cooperação do noivo, para que venham a caminhar juntos, à Luz. Todavia, embora almeje por caminharem juntos, refere-se ao apoio que um empresta ao outro, pois, a despeito de caminharem juntos, a ascensão espiritual é sempre individual. Ela, o levaria à casa da mãe, e ele, a ensinaria, ela lhe daria de beber do vinho aromático. Registrando o aludido intercambio no doar, característica dos que verdadeiramente se amem, mas, valorizando àquilo que a mulher pode oferecer-lhe, como guardiã do lar, porque esse é o papel da feminilidade na Criação, embora a maioria das hodiernas mulheres o desprezem... “casa da mãe”, simboliza a saudade norteadora da época em que, ao entrar na puberdade, sentiu-se assim mesmo, muito mais ligada à Luz, devido ser concomitante com a plena ligação da força do seu espírito, advento que ocorre a todos os jovens, na época da puberdade.


8:3) “Sua mão esquerda estaria sob minha cabeça, e com a direita me abraçaria”.

8:3 ) Simbolizando que a despeito de cuidá-Io, nele e dele busca a proteção e alguém que ponha em execução os seus intuitivos assomos direcionadores. Porque o homem está destinado a executar ao que a mulher se encontra mais capacitada a captar das Irradiações da Luz, “pacificamente”, posto ser naturalmente; intuitivamente. Nas épocas em que o homem, menos embrutecido, podia pressentir o valor que reside na presença da mulher na Terra, havia o seu natural respeito e a intenção de mantê-Ia protegida de todo o mal. Porém, desde que a força sexual foi aviltada, assomada pelo instinto, o homem passou a ver na mulher apenas um objeto de prazer, resultando em que daquela íntima elevada sensação, restou apenas uma torcida suposição, a de que a mulher deva ser protegida... Por pertencer ao sexo frágil... Todavia, o homem via na mulher a condição de um tesouro precioso, e, não, somente em relação à sua companheira, mas a todas as mulheres. Por isso, mantinha-se interessado em protegê-Ias, de modo a resultar, sob a visão intelectiva, nessa réles ideação “sexo fraco”, por terrenalizarem àquela correta íntima impressão.


8:4) “Filhas de Jerusalém, eu vos conjuro: não despertei, não acordeis o amor, até que ele o queira!”.

8:4) Novamente, mas de maneira mais direta, vemos nessa frase a advertência aos que buscam alcançar o Amor mediante ESFORÇOS. Pois, o AMOR verdadeiro, somente se dá a conhecer aos que atuem de maneira pura, portanto, ausente de qualquer MOTIVO que o leve a amar, e, somente há esforços quando há motivos para exercê-Ios. Portanto, indicando para a conduta NATURAL, sem esforços. Pois, nos ESFORÇOS sempre há como base um MOTIVO a determiná-Ios, e, um motivo sempre nasce da atividade do raciocínio, não é, pois uma ação decorrente da presença do espírito (sob sua voz, intuição).


8:5) “Quem é essa que sobe do deserto apoiada em seu amado ? Sob a macieira a despertei, lá onde a tua mãe te concebeu, concebeu e te deu à luz”.

8:5) Nesse verso a exaltação do apoio masculino à feminilidade, uma proteção à qual vimos nos aludindo, que foi torcida para uma idéia de fragilidade, sendo que, na realidade, é a mulher muito mais favorecida (mais “forte”), como ser, do que o homem, devido à sua mais estreita ligação com a Luz. A alusão à concepção e ao nascimento haver ocorrido sob uma macieira, indica a pureza do relacionamento que resultou no seu nascimento, por assumir a condição de “elo” à Luz, a feminilidade, na Terra. Ademais, a expectativa que a Luz mantém em relação à mulher, refere-se também à sua prole. Pois, por meio da procriação, encontra-se apta e responsável para atrair espíritos dignos à Terra.


8:6) “Grava-me, como um selo no teu coração, como um selo em teu braço; pois o amor é forte, é como a morte! Cruel como o abismo é a paixão ( ciúme, em algumas Edições); suas chamas são chamas de fogo, uma faísca de Iahweh!”

8:6) Gravar no coração e no braço, indica manter sempre presente o amor, não somente no íntimo (“coração”), mas também nas atitudes (“braço/ atuação”'). Simbolizando a mais refinada atuação, por promove-la em consonância ao que lhe vai no íntimo, aquilo que é o fruto da intuição, e, não, do cérebro raciocinador. O amor é mais forte do que tudo (“uma faísca de lahweh”) superando até mesmo a morte. Isso, em razão de decorrer da ação do espírito, que sempre leva consigo, para o além, tudo aquilo que hauriu por meio do vivenciado na Terra. Ai, pode-se denotar a diferença existente entre sabedoria e conhecimento, o último, advém do memorizado, logo, sendo um produto cerebral; como tal, após a morte na Terra, como o corpo carnal, também aqui restará. Enquanto a sabedoria é propriedade do ser, adquirida no atento vivenciar cotidiano, pois, é para alcançar o “saber”, que o espírito vem até à Terra. Paixão ou ciúme, indicam o amor posse, aquele que, desvirtuando a força sexual, rende-se ao imperativo dos desejos; mero instinto.


8:7) “As águas das torrentes jamais poderão apagar o amor, nem o riso afogá-lo. Quisesse alguém dar tudo que tem para comprar o amor... Seria tratado com desprezo”.

8:7) Nada é mais forte que o amor; nem a morte, nem as pressões mais fortes que o ser humano pode conhecer na Terra (força das águas das torrentes, que representa 3/4 da superfície terrena).
Nisso, ressalta a intenção de colocar a mulher na evidente condição de auxiliadora em relação ao homem, desde que ela atue sob puro amor. Pois, aqueles homens que pretendam conquistá-Ia, mediante a amostragem das suas posses, no aparente faustoso, bem como as mulheres que se deixam assim impressionar (“conquistar”), por interessar-lhes a vantagem que possam disso auferir, enganam-se também a si mesmas, pois, o amor não pode ser comprado por nenhum meio ou “moeda”; os que assim tentam, são “desprezados” até mesmo por aqueles que suponham que os amem, porque tais, amam as suas posses e poderes, e enxergam-nas como parcela dessas posses.


8:8) “Nossa irmã é pequenina e ainda não tem seios; que faremos à nossa irmãzinha quando vierem pedi-Ia ?”

8:8) Alguns aspectos podem ser abordados. Preliminarmente, a alusão à Força Sexual, pois, somente por ocasião da puberdade, há a complementação da ligação do corpo com o espírito, sucedendo, em decorrência, a plenitude da responsabilidade para o ser humano. Pois, mediante essa complementação, o espírito humano adquire o finalizar das condições de que necessita para o pleno aproveitamento do seu vivenciar na Terra, daí o assumir da responsabilidade plena, suceder na puberdade. (Porém, referimo-nos a uma complementação que abrange também ao espírito, por ser com base na alteração hormonal que o sangue é alterado e resulta na puberdade. Por ser precisamente na irradiação do sangue que o espírito encontra o “meio” para poder atuar na densa matéria terrena, dominando “seu” corpo carnal, logo, identificando esse momento).

Mas, como foi o noivo que assim declarou, podemos depreender que ao a noiva reconhecer o Amor de Deus, e passar a empenhar-se em manter suas manifestações puras, foi mal compreendida pelo homem, que por incompreender a pureza, passou a vê-Ia apenas como uma infante a quem apenas dispensaria um zeloso cuidado (“irmã”). Havendo algo da mesma idéia que levou o homem a supor que a mulher pertence ao sexo fraco - necessitando proteção - porém, nisso, desvaloriza-a, e mais, porque deixa de perceber o seu maior valor, descurando de acatar as suas preciosas determinações.


8:9) “Se é uma muralha, nela faremos ameias de prata, e se é uma porta, nela poremos pranchas de cedro”.

8:9) Como se lê, a impressão nascida da intuição do homem, quanto a respeitar e proteger a mulher (“muralha/ameias/cedro”) simboliza que ao repudiar o seu instinto (DESEJO) apenas carnal, busca readequar-se, todavia, ainda dominado pelo intelecto, desviou o seu desejo para uma diametral oposição ao que antes por ela sentia. Pois, ao o versículo ressaltar que o homem nutre apenas um sentimento de proteção, evidencia o erro professado, pois, não é também adequado ignorar que, na Criação, o acasalamento é natural, por isso, necessita ver na mulher um apoio e a sua complementação, e, não, alguém inferior ou, imatura.


8:10) “Eu sou muralha e meus seios torres, aos seus olhos, porém, sou a mensageira da paz”.

8:10) O engano, no entanto, é desmanchado pela própria noiva, que se sabe mulher (lato senso, pois abarca a sua especial condição de norteadora à Luz). Portanto, que se sabe possuidora de qualificações especiais, derivadas da posse de uma intuição mais refinada, mas, que não descura da sua condição de possuir características de ser também uma indispensável complementação física para o homem. Portanto, consoante ao texto, ressaltando a sua condição de “MENSAGEIRA DA PAZ” por ser aquela de quem ele depende para alcançar a Luz. Todavia, reiteramos, não negligenciando quanto a ser possuidora de outras dotações, que, aliás, requerem por serem compreendidas no seu lato senso (naturalmente). Mas, também as físicas, na condição de mulher, de esposa e de geratriz da prole, mas, sobretudo, de ser aquela que é a guardiã da Sagrada chama, mantenedora do lar da Criação.


8:11) “Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamon; deu a vinha aos meeiros e cada um lhe traz de seu fruto mil sidos de prata”.

8:11) A localização de Baal-Hamon é desconhecida, entretanto, estando assim correto, porque o texto não pretende se referir a nenhuma cidade, mas, sim, a Baal, uma “divindade” do mal. Porquanto o “lucro”, que resultou da vinha do homem, segundo o texto, é material, porém, trabalhada sob o enfoque espiritual do existir, resulta num benefício amplo, compartilhado por todos, porquanto, a reciprocidade da Lei, providencia o justo pagamento.


8:12) “Minha vinha é só minha; para ti, Salomão, os mil siclos, e duzentos aos que guardam o seu fruto”

8:12) Aquilo que extraio do que é meu, é só meu, equivalendo a referir-se ela, ao espírito, ÚNICA “COISA” QUE O SER HUMANO NA REALIDADE É. Portanto, ao dizer que a sua vinha é só sua, está indicando que nada pode fazer para auxiliar o homem, se ele próprio não se interessar e se empenhar em desenvolver-se. Ressalta, pois, o aspecto de individualidade quanto ao seu desenvolvimento, que persevera, pois, prevalece mesmo dentre os casais que caminham “juntos”, rumo à Luz. Portanto, o que ainda desconhecia a sua condição de espírito (permanecia inconsciente do seu Amor, daí, apenas desejar, e, não participar), simbolizado pelo pagamento estipulado haver sido ainda em dinheiro (“mil siclos”). Mas, ressaltando também a algo que Jesus outrora nos Ensinou, quando se referiu a dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Porquanto, ao assim a mulher enfatizar, separou o mundano do espiritual, e ressaltou ao homem a responsabilidade individual, ademais, indicando-lhe que a Lei da reciprocidade, que o havia provido antes, continuará a atuar, posto ser sob Justiça, de modo a não haver que preocupar-se com o pagamento, esse, virá.


8:13) “Ó Tu, que habitas nos jardins, meus amigos estão atentos para ouvir a tua voz”.

8:13) A mulher (noiva/esposa), dirige-se agora a Deus, intercedendo pelos mesmos amigos que anteriormente, embalada por desejos, havia pretendido tornar também em seus admiradores, evidenciando que naquela oportunidade, pensava somente em si mesma, pretendendo cumprir vaidades e desejos, destituída do amor ao próximo. Mas, agora, por eles manifestarem algum anseio (ouvir a tua voz), evidenciam reconhecerem o Amor de Deus. Por isso, a mulher já não apenas objetiva elevar o seu noivo, mas, que todos os homens possam igualmente compreender a Verdade, adequando-se.


8:14) “Vem depressa, amado meu, faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela que saltam sobre os montes aromáticos”.

8:14) Deus (“amado”), é novamente invocado pela mulher, objetivando que Ele estenda, aos seus amigos (amor ao próximo), a Força que ela logrou receber e que soube tão bem aproveitar-se. Entretanto, sabendo da dificuldade que defrontará para influenciar beneficamente a todos, assim roga a Deus. Suplicando por mais forças, pois sob esse auxílio, almeja que A Luz se faça presente, apoiando-a nesse seu elevado desiderato: auxiliar a todos. A Lei, agindo em seu auxílio, atua, vindo célere, como se fosse “o gamo ou a gazela”, “saltando os morros aromáticos”, pois, não se detém ante barreira alguma; porque o amor é sempre mais forte do que tudo, vindo ao encontro de todos quantos O buscarem.

* * *



O texto de Cantares termina assim, um tanto abruptamente, porém, dentro da linha das interpretações que oferecemos, é plenamente satisfatório que o relato seja assim finalizado, pois, esgotou-se aquilo que de mais importante havia a ser revelado à posteridade, a preciosidade que reside numa ação adequada da mulher.

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