sexta-feira, 14 de março de 2008

Capítulo 3.

3:1) “De noite, no meu leito, busquei o amado de minha alma, busquei-o e não o achei”.

3:1) Seguindo como é comumente professado, com base na aceitação das facilidades acenadas nas igrejas, a mulher passa a buscar a Deus por meio de rogativas (DESEJOS). Mas, infrutiferamente, pois, acomodada, deixa de se empenhar em apresentar conduta consoante ao amor que alega haver reconhecido (“De noite, no meu leito, busquei o meu amado”); “de noite”, e “no meu leito”, simbolizando a sua “procura” acomodada, e, não, sob cônscio labor. Mas, a essas, Deus desaparece (“busquei o Amado e não o ache”), pois, Deus se ausenta dos que buscam-no intelectivamente, sob esforços com que pretendem objetivar “prêmios” celestiais, ou, quando se acomodam “crendo” que basta pedir, pedir e pedir... essas, serão as que como no verso, dirão... “e não O achei”.


3:2) “Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade, pelas ruas e pelas praças; buscarei o amado da minha alma. Busquei-o e não o achei”.

3:2) A mulher é aqui instada, por sua intuição, a erguer-se (“Levantar-me-ei”), a fim de buscar por Seu AMOR, porém, perante a Lei, nada vale tal “boa vontade” (mera promessa: “levantar-me-ei”); porque a Lei requer ação do espírito, no presente do tempo. Portanto, continua a mulher a apenas desejar, fantasiar, mas não atua. E, no buscar encontrar o Seu Amor “pelas ruas e praças”, simboliza que busca-o através das igrejas e “mestres”. Assim, não O encontra mesmo, pois, Deus não se mostra aos que alegam buscá-Io, sem que todavia se revelem atuantes, sob o amor ao próximo.


3:3) “Encontraram-me os guardas, que rondavam pela cidade. Então lhes perguntei: Vistes o amado da minha alma ?”

3:3) Aquela que ainda anseia, sempre será alvo da amorável Retroação da Sua Lei (“encontraram-me os guardas”). E, esses guardas, na condição de efeitos da Sua Providência (Leis/ carmas), lhes indicarão, sob admoestações cármicas, o Caminho do Amor, do qual a mulher se afastara, limitando-se a perguntar. Porque, ao limitar-se a indagar, denota que não atua, posto não manter-se sob o anseio, que a encaminharia à Verdade sem que necessitasse de que terceiros (doutrinas) a “encaminhasse”.


3:4) '”Mal os deixei, encontrei logo o amado da minha alma; agarrei-me a ele e não o deixei ir embora, até que fiz entrar em casa de minha mãe, e na recamara daquela que me concebeu”.

3:4) Assim que contactou a Sua Lei (guardas), sob efeitos cármicos, foi induzida a poder reconhecê-Io, todavia, continuou errada, por pretender AGARRÁ-LO para si, no desejo de levar o Amado para a casa de sua mãe (simbolizando a lembrança “saudosa” da época em que o seu espírito mantinha-se puro, antes da puberdade). Simbolizando também o nefasto fruto do que se doutrina nas igrejas, onde a idéia de o Senhor ser uma espécie de propriedade daquela “sua” igreja, passou a ser comum. Contaminando negativamente os que supõem ser isso possível, apesar de lerem na Bíblia que o Senhor não faz acepção de pessoas. Tais ESFORÇOS, com os quais visam cumprir metas conhecidas (DESEJOS), significam meras tentativas de comprimir o transcendental no âmbito das coisas; fruto da presunção lastreada na ignorância. E, tentar “levá-Io à casa da mãe”, simboliza a “intimidade” que as doutrinas ensinam que os “fiéis” devem estabelecer com o Senhor, por exemplo, quando afirmam “não aceitar”, a pobreza ou a má saúde, adversidades (ignoram a Lei e desconhecem a humildade). Portanto, sob a intenção de tê-Lo para si, como sua “propriedade”.


3:5) “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira”.

3:5) Repete-se a advertência anterior, visando com que depreendam que de nada valem os ESFORÇOS (procurá-Io nas ruas da cidade), se perdura a embasá-Ios, uma intenção, um MOTIVO, para exerce-Ios (ser agraciada com benesses terrenas). Pois, buscar o transcendental AMOR, por via de esforços, que contemplam um motivo, é sempre inviável, por não haver uma voz interior a norteá-Ios, portanto, por ausentar-se a requerida NATURALIDADE DO SER. Por isso, aquela que tenta “despertar” o amor, não ama verdadeiramente a ninguém, não é natural nem verdadeira, ama a si mesma, pois, o amor puro é sempre DOADOR, não se cingindo a objetivações (DESEJOS), sendo exercido mediante a espontaneidade do “ser”. E, havendo um “motivo” para “amar”, há o amor-próprio, e, não, o amor ao próximo, resultando num erro, quase sempre irreparável, por insuspeitar-se de que verdadeiramente, não amam; senão a si. Entretanto, o texto ressalta, ensinando, “até que esse o queira!”.


3:6) “Que é isso que sobe do deserto, como colunas de fumo, perfumado de mirra e de incenso, e de toda a sorte de pós aromáticos do mercador?”

3:6) Aqui vemos que a despeito de portar latente ANSEIO à Luz, a mulher foi despertada para “algo” terreno (“Que é isso?”), e constata, e deseja (“colunas de fumo, perfumado de ...”). Pois, encontrando-se sob o domínio intelectivo, passa a “sublimar” o que é material, “entendendo” preencher o seu objetivo (“fumo” / “eleva-se”). Porém, como o que lhe desperta a atenção vem do deserto, evidencia conotar-se mesmo da condição de um mero fumo, porque evola de um solo sáfaro, e esfumaça-se, por serem desejos. Deserto, ainda simboliza o árido campo onde o raciocínio “encontra” as suas “grandezas”, supondo-as “elevadas”, e “achando” serem refinadas (“perfumado”). Todavia, adquiridas via pagamento, portanto, como “entende” serem as graças que compra nas igrejas, de sacerdotes que atuam como se fossem “mercadores”.


3:7) “É a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel”.

3:7) Em conseqüência dessa sua “visão” calcada em valores terrenos, embora “sublimados”, há a seguir, no texto, uma sucessão de enaltecimentos e valorizações que, pautando essa mesma linha, espelham o domínio intelectivo sobrepondo-se à voz interior. Na frase supra, o enaltecimento do PODER simbolizado pelos “Sessenta valentes estão ao seu redor”. Nas seguintes, outros aspectos materiais são ressaltados, evidenciando que a mulher, negligenciando, permitiu-se dominar pelos desejos, acentuadamente.


3:8) “Todos sabem manejar a espada e são destros na guerra; cada um leva a espada à cinta, por causa dos temores noturnos”.

3:8) Agora, o enaltecimento à FORÇA bruta, numa clara identificação da presença dominante do intelecto sobrepondo-se à voz do espírito. E, ao aludir-se a “temores noturnos” identifica a presença do medo, que somente surge devido à ausência da confiança, falta de FÉ. Porquanto, o espírito, se e quando dominante, desconhece o temor; apenas o intelecto está habilitado a desconfiar, duvidando da Sua Justa Providência (Lei), cultivando o medo.


3:9) “O rei Salomão fez para si uma liteira de madeira do Líbano”.

3:9) Agora, várias citações relacionadas aos valores extraídos da obra humana, por exemplo, o enaltecimento à SEGURANÇA edificada com os recursos intelectivos, terrenos. SEGURANÇA, que muitos acreditam encontrar nos recursos que a Técnica, a Ciência, Força ou Dinheiro “podem oferecer”.


3:10) “Fez-lhe as colunas de prata, a espalda de ouro, o assento de púrpura, e tudo interiormente ornado com amor pelas filhas de Jerusalém”.

3:10) Nessa frase, há o simbolismo da tentativa de terrenalizar o AMOR (“ornado com amor”). A confusão que os dominados pelo intelecto promovem, ao suporem que naquilo que conceituam como sendo um DEVER, resida excelsitude, desviou-os do vero e puro AMOR, a ponto de não mais identificá-Io, adotaram o amor próprio. Aliás, comprovando essa ignorância a respeito do amor, temos nas afirmações “fazer amor”, “dever de gratidão” etc; conceitos absolutamente estranhos à naturalidade do SER, mas, tomados como válidos, devido à ignorância (negligência) espiritual. “Ornadas pelas filhas de Jerusalém”, é assim mesmo que passam a supor serem as suas igrejas, edificações que se esforçam em multiplicar, tendo-as como do “agrado de Deus”. O ouro e a púrpura, sempre estiveram presentes nas igrejas, porém, agora, mantêm-se escondidos dos “fiéis”, embora os donos das igrejas e seus empregados não disfarcem que objetivam aumentá-Ios, alardeando serem necessários para a instalação do “poder de Deus na Terra”...?! Porque de há muito que o “poder de Deus” passou a ser medido sob o enfoque material, curas, milagres, número de fiéis, aumento de igrejas, de programas de rádio e televisão e países em que atuam. O ensino da Verdade, ou o auxilio na Sua busca, não mais se capacitam a promover, nem lhes interessa, atrai-os apenas o dinheiro.


3: 11) “Saí, ó filhas de Sião, e contemplai ao rei Salomão com a coroa com que sua mãe o coroou no dia do seu desposório, no dia do júbilo do seu coração”.

3:11) Nessa voz da noiva (mulher), a sua visão e tentativa de impressionar a Luz, exortando a si mesma a contemplar os “valores” terrenos, considerando os alvos que justificam seus esforços (“Saí ó filhas de Sião”). A ênfase à “grandeza” de Salomão e o enaltecimento àquela que foi a sua mãe (Bate-Seba), confirma o que afirmamos, pois, os relatos bíblicos definem-na como alguém menor, voltada às posses e poder. Todavia, ante os céus, tais “valores” não contam. Algo análogo ao que ocorreu com as edificações de imensas e faustosas catedrais, construídas tendo em vista o enaltecimento dos mandatários, e os interesses mercantis daqueles povos, e, não, por louvarem a Deus. Tal “júbilo do seu coração”, portanto, assemelha-se ao mesmo “júbilo” que o rei e sua mãe sentiram, ao serem empossados no poder, imersos no mais absoluto fausto daquela época. Quanto a ser o dia do “desposório”, endossa a visão menor, terrena, pois Salomão a ninguém amou, nem poderia pois, entre esposas e concubinas “possuía” mais de um milhar...

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