5:1) “Já entrei no meu jardim, minha irmã, noiva minha; colhi a minha mirra e meu bálsamo, comi meu favo de mel, bebi meu vinho e meu leite”. “Comei e bebei amigos; bebei fartamente ó amados”. (fala da esposa).
5:1) Haver já entrado no jardim, que passou a considerar “seu”, indica a sensação e desejo de posse que o homem apresenta ante a tentadora mulher. Contudo, pelo que se depreende do texto, há alusões apenas ao seu aspecto material, prazeroso. Aliás, enfoque material que foi reafirmado pela mulher, no convite que ela própria estendeu aos amigos do esposo: (“Comei e bebei amigos; bebei fartamente ó amados”) (que os amigos do esposo comessem e bebessem fartamente, na condição de “amados”; comentaremos abaixo).
A reiteração do possessivo, na “fala” do noivo, é patente (meu/ minha), registrando a idéia de posse que o homem conservou a respeito da “sua” mulher. Aliás, um vezo decorrente do fato de haver elegido a mulher à condição de um objeto para seus prazeres, por isso, tendo-a na condição de encerrar o máximo “valor” na Terra. E, a resposta ou exclamação da mulher, convidando outros amigos a virem ao “seu” jardim, expressa que também ela se vergou à visão existencial acanhada apenas ao plano material. Pois passou a igualmente “necessitar” que outros, além do noivo, também a admirassem, pois, o DESEJO jamais encontra saciedade em si mesmo; requer sempre mais e mais...
Nisso, expressa-se que ao se ver dominando a “situação”, a noiva deixa de objetivar, como sendo o máximo alvo para o seu existir, a simples constatação de que seja querida pelo seu noivo. Requer algo mais, o ser admirada também por outros (amigos), ainda que, nisso, apenas limite-se a deixar-se ser admirada. Assim se comportando, por supor ser viável que, em sendo admirada por outros, será ainda mais querida pelo seu noivo, num misto de VAIDADE e de DESEJOS que, em vão, busca por todos meios, satisfazer. Repete-se, pois a mesma configuração que domina os intelectivos, que somente dão valor a algo, se aprovado ou cobiçado por outros. E, também evidencia a tola postura daqueles que para se verem bem valorizados, necessitam de serem bem “avaliados” por terceiros... “comei e bebei amigos, bebei fartamente, ó amados”
5:2) “Eu dormia mas o meu coração velava; e ouvi o meu amado, que batia: Abre, minha irmã, minha amada, pomba minha sem defeito! Tenho a cabeça orvalhada, meus cabelos gotejam sereno!”
5:2) Ao experimentar o “sucesso” desse propósito, após haver desejado ser atrativa também aos amigos, a noiva, em sonho (dormia, mas o meu coração velava), que expressa a voz do espírito, intuitivamente vivenciava, sendo então exortada à sadia reflexão. Nisso, sem definir a causa, surge à chance para enojar-se de si própria, conseguindo pressentir que está descumprindo o seu papel, pois, apesar de manter-se existencialmente “adormecida”, em sonho, é exortada (“mas o meu coração velava”). E, então, do seu íntimo assoma-lhe uma “saudade” do Amado de outrora (Deus, o “Primeiro amor”), porque sente que a “voz do meu amado, que está batendo”... Portanto, não é um bater à porta comumente conhecido, é algo mais “vivo”, porque quem bate é a Sua “voz” (palavra), a Verdade “Abre-me minha irmã, querida minha...” E, a Luz quer ver na mulher alguém que de fato haja se tornado adaptada aos seus dotes especiais; adequada e apta a desincumbir-se do seu papel de norteadora ao homem, porque na mulher quer ver alguém que simbolize uma “pomba minha, imaculada minha”.
Pois, o período de espera, da parte da Luz, esgota-se, porque a longanimidade do Senhor cessará com o Juízo Final, sendo esse texto de Cantares, portanto, uma advertência para o fato de a incumbência da feminilidade na Criação, haver sido relegada pela mulher. Espera da Luz, que está simbolizada na frase “porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite". Porém, pelo que vimos lendo, a mulher envolveu-se demais nos enleios intelectivos para poder, apenas num repente, livrar-se de vez, por completo, desse domínio dos desejos, a que se entregou. Por isso, apesar de “velar”, “entende” ser a Divindade que a busca, que a procura, e que por ela espera e anseia por muito “tempo”, pois assim “entende” ao ver estar o Amado com a (“cabeça orvalhada, meus cabelos gotejam sereno”). Ensoberbada, porque possui refinadas capacitações - que “entende” serem os seus dotes físicos - sente-se lisonjeada. Por isso, ao invés de reconhecer que por ser uma criatura, de Deus necessita, portanto, que se movimente, indo ao Seu encontro; e, não, que o Amado a quer e que a espera.
5:3) “Já despi a minha túnica, e vou vesti-Ia de novo? Já lavei meus pés, e vou sujá-Ios de novo ?”
5:3) ACOMODAÇÃO! O risco mais grave que um ser humano pode incorrer está na acomodação, pois essa retrata a negligência do espírito. Acomodados, são os que sempre deixam para “DEPOIS”, o momento de iniciar a busca do desenvolvimento espiritual. Por ignorância, há sempre algo a fazer ANTES de dar início ao magno desiderato existencial: a busca e alcance do seu desenvolvimento. O simbolismo da ACOMODAÇÃO, alude-se também aos que se intitulam “religiosos”, mas que limitam-se à pratica de ESFORÇOS no sentido de cumprir os alvos preconizados por sua igreja, crendo ser isso suficiente... “Religiosos de fim de semana”, beatos que, com “caras de domingo”, freqüentam os Templos de todas as colorações, empertigados em suas vaidades, supondo ser com base nessa assiduidade que o “céu” registrará os “nomes” dos que a Deus “agradam”.
No texto, vemos que o comportamento da mulher endossa o que estamos apontando, relacionado ao comportamento dessa classe de ESFORÇADOS “religiosos”, pois, ao contentar-se com as lisonjas que de seu noivo ouviu, envaidecida, novamente acomoda-se em inércia. Acomodados são também os que ignoram a RESPONSABILIDADE que cada ser humano espiritual assumiu ao nascer, havendo de empenhar-se em tornar-se partícipe desse Reino em que se encontra inserido. Mas, ante um lapso de reflexão profunda, lembra do “primeiro amor” (Deus), todavia, logo a seguir, recai no antigo domínio intelectivo, por isso, acomodando-se. Então, entedia-se, evidenciando faltar-lhe forças para buscar a Verdade; o Amor do Senhor. Daí, o simbolismo ser adequado, referindo-se ao comodismo, mediante o relutar da noiva ante o “sacrifício” de tornar a se vestir e lavar os seus pés. Portanto, estando a evitar a ação responsável, própria, porque disso nem cogita, por querer graças de graça, consoante ao que ouviu nas igrejas que “doutrinam” o pedir. E, como os pés simbolizam a conduta, temos que ao a mulher não querer reformulá-Ia, não se entusiasma em “lavar os pés”... e, despida da túnica, simboliza que está sem a proteção material que busca mediante o “pedir”, como fazem os “doutrinados” em igrejas.
Porque, segundo lhes foi “ensinado” nas igrejas, a Divindade está aí para trabalhar (SERVIR) aos homúnculos terrenos, e não o contrário... Todavia, na realidade, cabe aos seres humanos, como hóspedes da Sua Criação, que Dessa participem; somente a ignorância e a ausência da humildade, permite que assim pensem, e atuem.
5:4 ) “Meu amado põe a mão pela fenda da porta: as entranhas me estremecem, minha alma, ouvindo-o, se esvai”.
5:4 ) Assim sucede às que O abandonaram, pois a Lei atua ( põe a Sua mão na fenda) induzindo-as à reflexão aprofundada, em geral, levada a efeito sob repentinos tormentosos carmas que as tornam assim mesmo, “estremecidas”, fato que indica haver sua culpa nesses seus sofrimentos: “as entranhas me estremeceram”. E, sob tamanha pressão existencial, imposto pela severa e Justa atividade da Sua Lei (“as entranhas me estremeceram”), estarão sendo compelidas a reconhecerem-no (“ouvindo-o”), contudo, nisso, experimentarão o “esvair” das “forças”, porque essa “força” comprada em igrejas, que supunham possuir e dispor, não lhes servirá de amparo, é falsa.
5:5) “Ponho-me de pé para abrir ao meu amado: minhas mãos gotejam mirra, meus dedos são mirra escorrendo na maçaneta da fechadura”.
5:5) Após o vivenciado estremecimento, é intimamente exortada a reabilitar-se, por isso, age, “põe-se de pé”. Todavia, ainda assim, busca-o com as mãos impuras, pois, o perfume (“mirra”), que apresenta, simboliza o “valor” superficial (“sobre as mãos”, que retrata a ação), porque não apresenta o amor no “coração”. Portanto, ação que baseia-se num motivo, logo, em desejo, e esse, não decorre de um puro anseio. Por isso, trata-se da ação realizada sob ESFORÇOS que são promovidos com base naquilo que aprendeu nas igrejas que preconizam serem do agrado de Deus, os “sublimados” pedidos, que faz para cumprir os seus terrenos desejos. A Divindade somente entende e aceita a PUREZA comportamental, e, ao a Lei assim severamente atuar, temos simbolizado na ação das suas mãos que apenas perfumam a maçaneta, não a abrem, logo, retém-se na matéria, não abre a porta para a Luz poder adentrar.
5:6) “Abro ao meu amado, mas o meu amado se foi...Procuro-o e não me responde...”.
5:6) Do modo intelectivo, buscou Deus, por isso, não O encontrou. Consoante ao que vimos indicando, Deus “desaparece” daqueles que O busquem de maneira superficial, intelectiva. Ainda que consigam agradar os dirigentes da sua igreja, pois, perante Deus, tais “religiosos” também não podem ser reconhecidos, nem mesmo a “obra” que apresentam, posto calcada em interesse próprio (motivo), no mínimo, nos desejos de assegurar-se um “lugar nos céus”. Esses, de fato não O encontram, mesmo que abram as portas, pois, aqui o simbolismo é outro, por indicar que somente sobre as dores íntimas mais profundas, ANTE A DESESPERANÇA, tentarão tardiamente a adequação, todavia, em vão. Algo que vimos elucidando ocorrer com as almas que irão ser dissolvidas no além, aos poucos, havendo o espírito de aguardar, sob desesperança, o desfecho inexorável que o aguarda, a “morte indubitável” (perda da consciência).
5:7) “Encontraram-me os guardas que rondavam a cidade. Bateram-me, feriram-me, tomaram-me o manto as sentinelas das muralhas!”.
5:7) Aqui temos patenteada a atuação automática das Leis da Criação (guardas), que severamente RETROAGIRAM ante os desvios praticados por aquela que se omitiu de participar como representante da feminilidade na Terra. Todavia, como o cérebro não possui capacidade para compreender o transcendente - por reconhecer apenas a si próprio - somente interessa-se por alcançar os alvos inseridos no tempo e espaço, daí, ante a reprimenda, embora justa e necessária, revoltou-se.
Porque, as Suas Leis atuam (“os guardas bateram-me”) objetivando corrigir esse desvio, mediante efeitos carmicos, admoestando-a, mas, no sentido de auxiliar a que se readeque ao Caminho à Luz. Na expressão “tomaram-me o manto” temos a confirmação desse atuar severo e sempre justo que as Leis (“guardas”) impõem aos omissos em espírito, pois, os prejuízos materiais, registram aquilo que o ser humano mais profundamente sente, de modo a assumirem a condição do meio mais eficaz para exortá-Ios. Mas, o “manto”, como veste terrena, simboliza também uma falsa proteção, posto material, representa o que as igrejas lhes vendem, constatação que hão de proceder, em geral, tarde demais. Havíamos lido que os guardas (Lei) que antes contactara, apenas indicaram-lhe o “Caminho para o Amado”, agora, após haver ela perseverado no mesmo erro, a Sua Lei impôs efeitos admoestadores mais severos (simbolizado no “bateram-me”), visando readequá-Ia. Mas, havendo também a notar que não se trata mais de guardas das praças e ruas da cidade, e, sim, os dos muros, portanto, mais enfatiza que para readequar-se, a mulher há de passar, sob a ação da Lei, pelos “muros” que simbolizam o “entendimento” doutrinado.
5:8) “Conjuro-vos ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe direis ?... Que desfaleço de amor !”.
5:8) A mulher torna a sofrer admoestação cármica, sente-se “desfalecer” - que expressa o desligar-se da Força - então, volta-se aos céus - às filhas de Jerusalém - rogando por auxílio. Sensação nascida dos assomos intuitivos, a voz do espírito, que embora debilitado, em razão da omissão até então praticada, ainda dá mostras de vitalidade, posto saber estar “desfalecendo de amor”, portanto, reconhecendo que sofre por haver negligenciado. Contudo, ainda não se sente plenamente capacitada a, sozinha, impor o direcionamento existencial adequado, daí, a súplica do seu espírito, às “filhas de Jerusalém”. Mas, não basta que apenas conjure por auxílio, necessário muito mais, requer a sua ação:
5:9) “Que é teu amado mais do que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é teu amado mais do que os outros para assim nos conjurares?”.
5:9) A voz da intuição, que a fez assim lembrar de buscar o seu Amado (“primeiro amor”), essa mesma, lhe exigindo mais do que apenas “rezas” e pedidos; requer por seu empenho, impondo que reconheça o Seu Amor atuando na Lei que representa a Sua Vontade. Porquanto, toda a mulher que assim se posicionar ante o existir, atuará sem tergiversações, temores ou dúvidas, estará confiante. Então, começa a pensar a respeito desse seu anseio, e declara: “Que é teu amado mais do que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é teu amado mais do que os outros para assim nos conjurares?”. Nas indagações, vemos simbolizado os estertores das forças trevosas que, aglutinadas em centrais de forças negativas indagam; do mesmo modo que vimos antes a serpente proceder com a mulher, tentando-a, para que comesse o fruto: “é certo que não morrereis”. Também nos lembrando essas indagações que visam diminuir a Divindade (Amado), a outra frase da serpente “sereis como deuses”. Porque essa “fala” não é nem do noivo nem da mulher, muito menos do Amado, por haver na indagação a clara intenção de diminui-Lo.
5:10) “Meu amado é branco e rosado, saliente entre dez mil”.
5:10) Como se denota, inicia-se novamente a intromissão intelectiva, que aos poucos anula o incipiente florir da intuição que a mulher apresentava, pois, ao tentar descrever como é o seu amado, retoma a linha das referências, comparações. Insistimos nesse ponto, ao interpretar, levados pela segura certeza de que a Divindade, por ser única, não pode ser comparada ou identificada. Somente o Seu Amor, fruto da Sua Vontade, sim, pode ser pressentido (reconhecido), mas, sob atividade, e, não, sob observação. Portanto, toda a vez que alguém pretender proceder avaliações ou afirmações a respeito do Divinal, erra, por não ser do seu espírito que advém as suas palavras, mas, sim, do seu intelecto, que ao assim manIfestar-se, dá mostras de estar dominando o espírito. A mulher que haja buscado readequar-se, almejando por refinar-se, podendo muito bem compreender as dificuldades que passou ao sempre novamente desviar-se do caminho, quando tentou comprimir a busca sob moldes e parâmetros extraídos do conceituado ou do “doutrinado”. E, continua a descrevê-lo, mas, AINDA sob o prisma intelectivo :
5:11-16) “Sua cabeça é ouro puro, uma copa de palmeira seus cabelos, negros como o corvo. Seus Olhos... são pombas à beira de águas correntes: banham-se no leite e repousam na margem. Suas faces são canteiros de bálsamo, colinas de ervas perfumadas; seus lábios são lírios com mirra, que flui e se derrama. Seus braços são torneados em ouro incrustado com pedras de Társis. Seu ventre é um bloco de marfim cravejado com safiras. Suas pernas, colunas de mármore firmadas em base de ouro puro. Seu aspecto é o do Líbano altaneiro, como um cedro. Sua boca é muito doce... Ele todo é uma delícia! Assim é meu amigo, assim é meu amado, ó filhas de Jerusalém”.
5:11 a 16) Continuam as mesmas comparações e as referências ligadas aos prazeres (“Ele todo é uma delícia”), logo, identificando a mulher a pensar e agir ainda sob o domínio intelectivo.
5:1) Haver já entrado no jardim, que passou a considerar “seu”, indica a sensação e desejo de posse que o homem apresenta ante a tentadora mulher. Contudo, pelo que se depreende do texto, há alusões apenas ao seu aspecto material, prazeroso. Aliás, enfoque material que foi reafirmado pela mulher, no convite que ela própria estendeu aos amigos do esposo: (“Comei e bebei amigos; bebei fartamente ó amados”) (que os amigos do esposo comessem e bebessem fartamente, na condição de “amados”; comentaremos abaixo).
A reiteração do possessivo, na “fala” do noivo, é patente (meu/ minha), registrando a idéia de posse que o homem conservou a respeito da “sua” mulher. Aliás, um vezo decorrente do fato de haver elegido a mulher à condição de um objeto para seus prazeres, por isso, tendo-a na condição de encerrar o máximo “valor” na Terra. E, a resposta ou exclamação da mulher, convidando outros amigos a virem ao “seu” jardim, expressa que também ela se vergou à visão existencial acanhada apenas ao plano material. Pois passou a igualmente “necessitar” que outros, além do noivo, também a admirassem, pois, o DESEJO jamais encontra saciedade em si mesmo; requer sempre mais e mais...
Nisso, expressa-se que ao se ver dominando a “situação”, a noiva deixa de objetivar, como sendo o máximo alvo para o seu existir, a simples constatação de que seja querida pelo seu noivo. Requer algo mais, o ser admirada também por outros (amigos), ainda que, nisso, apenas limite-se a deixar-se ser admirada. Assim se comportando, por supor ser viável que, em sendo admirada por outros, será ainda mais querida pelo seu noivo, num misto de VAIDADE e de DESEJOS que, em vão, busca por todos meios, satisfazer. Repete-se, pois a mesma configuração que domina os intelectivos, que somente dão valor a algo, se aprovado ou cobiçado por outros. E, também evidencia a tola postura daqueles que para se verem bem valorizados, necessitam de serem bem “avaliados” por terceiros... “comei e bebei amigos, bebei fartamente, ó amados”
5:2) “Eu dormia mas o meu coração velava; e ouvi o meu amado, que batia: Abre, minha irmã, minha amada, pomba minha sem defeito! Tenho a cabeça orvalhada, meus cabelos gotejam sereno!”
5:2) Ao experimentar o “sucesso” desse propósito, após haver desejado ser atrativa também aos amigos, a noiva, em sonho (dormia, mas o meu coração velava), que expressa a voz do espírito, intuitivamente vivenciava, sendo então exortada à sadia reflexão. Nisso, sem definir a causa, surge à chance para enojar-se de si própria, conseguindo pressentir que está descumprindo o seu papel, pois, apesar de manter-se existencialmente “adormecida”, em sonho, é exortada (“mas o meu coração velava”). E, então, do seu íntimo assoma-lhe uma “saudade” do Amado de outrora (Deus, o “Primeiro amor”), porque sente que a “voz do meu amado, que está batendo”... Portanto, não é um bater à porta comumente conhecido, é algo mais “vivo”, porque quem bate é a Sua “voz” (palavra), a Verdade “Abre-me minha irmã, querida minha...” E, a Luz quer ver na mulher alguém que de fato haja se tornado adaptada aos seus dotes especiais; adequada e apta a desincumbir-se do seu papel de norteadora ao homem, porque na mulher quer ver alguém que simbolize uma “pomba minha, imaculada minha”.
Pois, o período de espera, da parte da Luz, esgota-se, porque a longanimidade do Senhor cessará com o Juízo Final, sendo esse texto de Cantares, portanto, uma advertência para o fato de a incumbência da feminilidade na Criação, haver sido relegada pela mulher. Espera da Luz, que está simbolizada na frase “porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite". Porém, pelo que vimos lendo, a mulher envolveu-se demais nos enleios intelectivos para poder, apenas num repente, livrar-se de vez, por completo, desse domínio dos desejos, a que se entregou. Por isso, apesar de “velar”, “entende” ser a Divindade que a busca, que a procura, e que por ela espera e anseia por muito “tempo”, pois assim “entende” ao ver estar o Amado com a (“cabeça orvalhada, meus cabelos gotejam sereno”). Ensoberbada, porque possui refinadas capacitações - que “entende” serem os seus dotes físicos - sente-se lisonjeada. Por isso, ao invés de reconhecer que por ser uma criatura, de Deus necessita, portanto, que se movimente, indo ao Seu encontro; e, não, que o Amado a quer e que a espera.
5:3) “Já despi a minha túnica, e vou vesti-Ia de novo? Já lavei meus pés, e vou sujá-Ios de novo ?”
5:3) ACOMODAÇÃO! O risco mais grave que um ser humano pode incorrer está na acomodação, pois essa retrata a negligência do espírito. Acomodados, são os que sempre deixam para “DEPOIS”, o momento de iniciar a busca do desenvolvimento espiritual. Por ignorância, há sempre algo a fazer ANTES de dar início ao magno desiderato existencial: a busca e alcance do seu desenvolvimento. O simbolismo da ACOMODAÇÃO, alude-se também aos que se intitulam “religiosos”, mas que limitam-se à pratica de ESFORÇOS no sentido de cumprir os alvos preconizados por sua igreja, crendo ser isso suficiente... “Religiosos de fim de semana”, beatos que, com “caras de domingo”, freqüentam os Templos de todas as colorações, empertigados em suas vaidades, supondo ser com base nessa assiduidade que o “céu” registrará os “nomes” dos que a Deus “agradam”.
No texto, vemos que o comportamento da mulher endossa o que estamos apontando, relacionado ao comportamento dessa classe de ESFORÇADOS “religiosos”, pois, ao contentar-se com as lisonjas que de seu noivo ouviu, envaidecida, novamente acomoda-se em inércia. Acomodados são também os que ignoram a RESPONSABILIDADE que cada ser humano espiritual assumiu ao nascer, havendo de empenhar-se em tornar-se partícipe desse Reino em que se encontra inserido. Mas, ante um lapso de reflexão profunda, lembra do “primeiro amor” (Deus), todavia, logo a seguir, recai no antigo domínio intelectivo, por isso, acomodando-se. Então, entedia-se, evidenciando faltar-lhe forças para buscar a Verdade; o Amor do Senhor. Daí, o simbolismo ser adequado, referindo-se ao comodismo, mediante o relutar da noiva ante o “sacrifício” de tornar a se vestir e lavar os seus pés. Portanto, estando a evitar a ação responsável, própria, porque disso nem cogita, por querer graças de graça, consoante ao que ouviu nas igrejas que “doutrinam” o pedir. E, como os pés simbolizam a conduta, temos que ao a mulher não querer reformulá-Ia, não se entusiasma em “lavar os pés”... e, despida da túnica, simboliza que está sem a proteção material que busca mediante o “pedir”, como fazem os “doutrinados” em igrejas.
Porque, segundo lhes foi “ensinado” nas igrejas, a Divindade está aí para trabalhar (SERVIR) aos homúnculos terrenos, e não o contrário... Todavia, na realidade, cabe aos seres humanos, como hóspedes da Sua Criação, que Dessa participem; somente a ignorância e a ausência da humildade, permite que assim pensem, e atuem.
5:4 ) “Meu amado põe a mão pela fenda da porta: as entranhas me estremecem, minha alma, ouvindo-o, se esvai”.
5:4 ) Assim sucede às que O abandonaram, pois a Lei atua ( põe a Sua mão na fenda) induzindo-as à reflexão aprofundada, em geral, levada a efeito sob repentinos tormentosos carmas que as tornam assim mesmo, “estremecidas”, fato que indica haver sua culpa nesses seus sofrimentos: “as entranhas me estremeceram”. E, sob tamanha pressão existencial, imposto pela severa e Justa atividade da Sua Lei (“as entranhas me estremeceram”), estarão sendo compelidas a reconhecerem-no (“ouvindo-o”), contudo, nisso, experimentarão o “esvair” das “forças”, porque essa “força” comprada em igrejas, que supunham possuir e dispor, não lhes servirá de amparo, é falsa.
5:5) “Ponho-me de pé para abrir ao meu amado: minhas mãos gotejam mirra, meus dedos são mirra escorrendo na maçaneta da fechadura”.
5:5) Após o vivenciado estremecimento, é intimamente exortada a reabilitar-se, por isso, age, “põe-se de pé”. Todavia, ainda assim, busca-o com as mãos impuras, pois, o perfume (“mirra”), que apresenta, simboliza o “valor” superficial (“sobre as mãos”, que retrata a ação), porque não apresenta o amor no “coração”. Portanto, ação que baseia-se num motivo, logo, em desejo, e esse, não decorre de um puro anseio. Por isso, trata-se da ação realizada sob ESFORÇOS que são promovidos com base naquilo que aprendeu nas igrejas que preconizam serem do agrado de Deus, os “sublimados” pedidos, que faz para cumprir os seus terrenos desejos. A Divindade somente entende e aceita a PUREZA comportamental, e, ao a Lei assim severamente atuar, temos simbolizado na ação das suas mãos que apenas perfumam a maçaneta, não a abrem, logo, retém-se na matéria, não abre a porta para a Luz poder adentrar.
5:6) “Abro ao meu amado, mas o meu amado se foi...Procuro-o e não me responde...”.
5:6) Do modo intelectivo, buscou Deus, por isso, não O encontrou. Consoante ao que vimos indicando, Deus “desaparece” daqueles que O busquem de maneira superficial, intelectiva. Ainda que consigam agradar os dirigentes da sua igreja, pois, perante Deus, tais “religiosos” também não podem ser reconhecidos, nem mesmo a “obra” que apresentam, posto calcada em interesse próprio (motivo), no mínimo, nos desejos de assegurar-se um “lugar nos céus”. Esses, de fato não O encontram, mesmo que abram as portas, pois, aqui o simbolismo é outro, por indicar que somente sobre as dores íntimas mais profundas, ANTE A DESESPERANÇA, tentarão tardiamente a adequação, todavia, em vão. Algo que vimos elucidando ocorrer com as almas que irão ser dissolvidas no além, aos poucos, havendo o espírito de aguardar, sob desesperança, o desfecho inexorável que o aguarda, a “morte indubitável” (perda da consciência).
5:7) “Encontraram-me os guardas que rondavam a cidade. Bateram-me, feriram-me, tomaram-me o manto as sentinelas das muralhas!”.
5:7) Aqui temos patenteada a atuação automática das Leis da Criação (guardas), que severamente RETROAGIRAM ante os desvios praticados por aquela que se omitiu de participar como representante da feminilidade na Terra. Todavia, como o cérebro não possui capacidade para compreender o transcendente - por reconhecer apenas a si próprio - somente interessa-se por alcançar os alvos inseridos no tempo e espaço, daí, ante a reprimenda, embora justa e necessária, revoltou-se.
Porque, as Suas Leis atuam (“os guardas bateram-me”) objetivando corrigir esse desvio, mediante efeitos carmicos, admoestando-a, mas, no sentido de auxiliar a que se readeque ao Caminho à Luz. Na expressão “tomaram-me o manto” temos a confirmação desse atuar severo e sempre justo que as Leis (“guardas”) impõem aos omissos em espírito, pois, os prejuízos materiais, registram aquilo que o ser humano mais profundamente sente, de modo a assumirem a condição do meio mais eficaz para exortá-Ios. Mas, o “manto”, como veste terrena, simboliza também uma falsa proteção, posto material, representa o que as igrejas lhes vendem, constatação que hão de proceder, em geral, tarde demais. Havíamos lido que os guardas (Lei) que antes contactara, apenas indicaram-lhe o “Caminho para o Amado”, agora, após haver ela perseverado no mesmo erro, a Sua Lei impôs efeitos admoestadores mais severos (simbolizado no “bateram-me”), visando readequá-Ia. Mas, havendo também a notar que não se trata mais de guardas das praças e ruas da cidade, e, sim, os dos muros, portanto, mais enfatiza que para readequar-se, a mulher há de passar, sob a ação da Lei, pelos “muros” que simbolizam o “entendimento” doutrinado.
5:8) “Conjuro-vos ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe direis ?... Que desfaleço de amor !”.
5:8) A mulher torna a sofrer admoestação cármica, sente-se “desfalecer” - que expressa o desligar-se da Força - então, volta-se aos céus - às filhas de Jerusalém - rogando por auxílio. Sensação nascida dos assomos intuitivos, a voz do espírito, que embora debilitado, em razão da omissão até então praticada, ainda dá mostras de vitalidade, posto saber estar “desfalecendo de amor”, portanto, reconhecendo que sofre por haver negligenciado. Contudo, ainda não se sente plenamente capacitada a, sozinha, impor o direcionamento existencial adequado, daí, a súplica do seu espírito, às “filhas de Jerusalém”. Mas, não basta que apenas conjure por auxílio, necessário muito mais, requer a sua ação:
5:9) “Que é teu amado mais do que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é teu amado mais do que os outros para assim nos conjurares?”.
5:9) A voz da intuição, que a fez assim lembrar de buscar o seu Amado (“primeiro amor”), essa mesma, lhe exigindo mais do que apenas “rezas” e pedidos; requer por seu empenho, impondo que reconheça o Seu Amor atuando na Lei que representa a Sua Vontade. Porquanto, toda a mulher que assim se posicionar ante o existir, atuará sem tergiversações, temores ou dúvidas, estará confiante. Então, começa a pensar a respeito desse seu anseio, e declara: “Que é teu amado mais do que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é teu amado mais do que os outros para assim nos conjurares?”. Nas indagações, vemos simbolizado os estertores das forças trevosas que, aglutinadas em centrais de forças negativas indagam; do mesmo modo que vimos antes a serpente proceder com a mulher, tentando-a, para que comesse o fruto: “é certo que não morrereis”. Também nos lembrando essas indagações que visam diminuir a Divindade (Amado), a outra frase da serpente “sereis como deuses”. Porque essa “fala” não é nem do noivo nem da mulher, muito menos do Amado, por haver na indagação a clara intenção de diminui-Lo.
5:10) “Meu amado é branco e rosado, saliente entre dez mil”.
5:10) Como se denota, inicia-se novamente a intromissão intelectiva, que aos poucos anula o incipiente florir da intuição que a mulher apresentava, pois, ao tentar descrever como é o seu amado, retoma a linha das referências, comparações. Insistimos nesse ponto, ao interpretar, levados pela segura certeza de que a Divindade, por ser única, não pode ser comparada ou identificada. Somente o Seu Amor, fruto da Sua Vontade, sim, pode ser pressentido (reconhecido), mas, sob atividade, e, não, sob observação. Portanto, toda a vez que alguém pretender proceder avaliações ou afirmações a respeito do Divinal, erra, por não ser do seu espírito que advém as suas palavras, mas, sim, do seu intelecto, que ao assim manIfestar-se, dá mostras de estar dominando o espírito. A mulher que haja buscado readequar-se, almejando por refinar-se, podendo muito bem compreender as dificuldades que passou ao sempre novamente desviar-se do caminho, quando tentou comprimir a busca sob moldes e parâmetros extraídos do conceituado ou do “doutrinado”. E, continua a descrevê-lo, mas, AINDA sob o prisma intelectivo :
5:11-16) “Sua cabeça é ouro puro, uma copa de palmeira seus cabelos, negros como o corvo. Seus Olhos... são pombas à beira de águas correntes: banham-se no leite e repousam na margem. Suas faces são canteiros de bálsamo, colinas de ervas perfumadas; seus lábios são lírios com mirra, que flui e se derrama. Seus braços são torneados em ouro incrustado com pedras de Társis. Seu ventre é um bloco de marfim cravejado com safiras. Suas pernas, colunas de mármore firmadas em base de ouro puro. Seu aspecto é o do Líbano altaneiro, como um cedro. Sua boca é muito doce... Ele todo é uma delícia! Assim é meu amigo, assim é meu amado, ó filhas de Jerusalém”.
5:11 a 16) Continuam as mesmas comparações e as referências ligadas aos prazeres (“Ele todo é uma delícia”), logo, identificando a mulher a pensar e agir ainda sob o domínio intelectivo.
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