4:1) “Como és formosa, querida minha como és formosa! Os teus olhos são como os das pombas, e brilham através do teu véu. Os teus cabelos são como o rebanho de cabras que descem ondeantes do monte de Gileade “.
4:1) Agora temos a primeira fala do homem, palavras que identificam o seu desejo carnal, ante a mulher, portanto, registrando como ela se revela aos seus olhos (“como és formosa”). E, na sua própria ação, temos revelado apenas o desejo de impressioná-Ia através dos “valores” que possui e ostenta: força, poder, segurança, “amor” pelos “seus”, posses, e uma promessa de um futuro “seguro” e faustoso (“amor”). Porém, vemos nesse texto um pressentimento quanto a existir uma outra beleza, recôndita, na mulher. Mas, não a identifica, posto ainda estar encoberta (“véu”).
4:2) “São os teus dentes como o rebanho das ovelhas recém-tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma delas há sem crias”.
4:2) A mulher, para os homens atidos a coisas, assim como descrita no texto se revela, vista sob o enfoque dos seus “dotes físicos”, pois, não foram induzidos a enxergarem seu verdadeiro valor, que se encerra no fato de representar, na Terra, a feminilidade; a mulher, necessita revelar-se como a “ponte” para a Luz. Todavia, enceguecido para os reais valores, denota enxergar na mulher apenas os valores computados na Terra como “preciosos”, e requerendo-os até em dobro (gêmeos), nisso, revelando as suas expectativas de cumprir os seus desejos e prazeres, intensamente. Demais, a alusão a “gêmeos”, também indica a padronização a que foi a mulher relegada, após perder a sua condição de norteadora espiritual, que marca a sua individualidade, vista pelos homens sob um respeitoso reconhecimento, e, gratidão. Algo que, de per si, já os tornariam melhores, e, empenhados em mais melhorarem.
4:3) “Os teus lábios são como um fio de escarlate, e tua boca é formosa, as tuas faces, como romã partida, brilham através do véu”.
4:3) A beleza feminina, sendo vista pelo homem, no qual não despertou os reais valores, sob o seu aspecto menor, posto encarada apenas como uma fonte para o seu prazer. Mas, ela se agrada disso, desde que abandonou o seu “primeiro amor” (Amado, e passou a interessar-se no noivo terreno), passando a vergar-se ante os DESEJOS de poder com ele, participar do fausto e dos prazeres. Todavia, novamente o engano, o falso que encanta os intelectivos, simbolizado pelo “véu” que vimos antes encobrir seu real brilho.
4:4) “O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para arsenal; mil escudos pendem dela, todos broquéis de valorosos”.
4:4) Além do desejo de possuir uma mulher tão valorizada sensualmente, há também o desejo de mostrá-Ia aos outros como um “troféu”... Pois, apesar do exacerbado sentido de posse que os homens nutrem em relação ao que “possuam”, os mais intelectivos, somente encontram algum “valor” no que suscite o interesse ou a cobiça alheia... Por isso, também valoriza-se apenas ao que conceitualmente possa ser considerado valioso... Paradoxalmente, até mesmo para reconhecer algo de valor, em si mesmo, o homem depende da aprovação alheia, o seu intelecto assim lhe impõe. Pescoço, simboliza uma coluna, portanto, a sustentação, que ao invés de ser notada como ligada ao espiritual, passou a ser “entendida” como sustentáculo para algo terreno, simbolizado pelo “arsenal” de possibilidades para fazer da “sua” mulher algo que identifique o seu poderio material, sua “bravura” e “masculina”.
4:5) “Os teus dois seios são como duas crias, gêmeas de uma gazela, que se apascentam entre os lírios”.
4:5) O físico (“seios”), aquilo que os intelectivos homens mais enfatizam nas mulheres, continua aqui ressaltado. Porém, na tentativa de sublimar esses seus baixos desejos, “emoldurado” por uma idéia de “pureza” atida à terra ("apascentam entre lírios”).
4:6) “Antes que refresque o dia e fujam as sombras, irei ao monte de mirra e ao outeiro do incenso”.
4:6) Como acontece, mesmo que seja tocado pelo íntimo anseio, por causa do entusiasmo produzido pela “posse” de uma bela mulher (sensualmente desejável), o homem sempre deixa para depois a sua busca espiritual. Porque, ausente do norteamento que somente a mulher adequada pode lhe oferecer, passa a supor que sempre haverá tempo ("Antes que fujam as sombras”), para então, com tranqüilidade, interessar-se pelo “mundo espiritual”. Porém, devido ao enfoque atido ao tempo/espaço, quando supõe buscar o Espiritual, apresenta DESEJOS (“irei ao monte de mirra e ao outeiro do incenso..”) Pois, por supor sempre haver tempo para “essas coisas”, busca “primeiro”, cumprir ao que conceitua ser o seu “dever”, mas, que na realidade são DESEJOS, porque interessa-lhe sobressair dentre outros e, mormente, aos olhos da mulher, a fim de que essa se interesse por ele, para “possui-Ia”. E, assim desviado do Caminho à Luz, se e quando sozinho se dispõe a buscar algo de real valor, ainda buscará apenas pelas coisas “sublimadas” pelos “doutrinadores”, ("mirra e incenso”).
4:7) “Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito”
4:7) Para os dominados pelo intelecto, os que somente vêem aquilo que “fala” aos sentidos, culminam por não encontrar nada de “errado” em uma mulher, se o seu físico é “sem defeito”
4:8) “Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olhar do cume de Amaná, do cume de Senir e de Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos”.
4:8) O homem que busca na matéria a satisfação dos seus DESEJ OS, propenderá a constituir ideais relacionados a lugares, pessoas, novas emoções e, muitas outras COISAS a serem vistas ou revistas, dentro de toda a gama de perspectivas materialistas. Sendo que com todo esse seu esforço e procura, objetiva a “segurança” de uma prazerosa usufruição dessas suas posses materiais. Mas, havendo ainda um outro aspecto a ser ressaltado, o de que o homem sempre passa a “criar” os seus próprios obstáculos, a fim de superá-Ios, porque somente assim se sente “vivo”. No caso, havendo também o interesse de impressionar a mulher, sob atrativas “iscas”, pretendendo se mostrar poderoso e capacitado, “melhor”, por estar sobre (“cume”) os outros poderosos (leões e leopardos).
4:9) “Roubaste o meu coração minha irmã, noiva minha, roubaste o meu coração com um só dos teus olhares, com uma só Pérola do seu colar”.
4:9) A personagem masculina, o noivo, se impressiona com a mulher, embora a ele se mostre valiosa apenas a seus olhos carnais, todavia, na declaração, “com um só dos teus olhares”, evidencia-se a íntima noção do real valor que poderá encontrar na “noiva” amada. E, ao designá-Ia de “irmã”, simboliza haver pressentido que o papel da mulher que deseja, abarca a algo mais do que ser apenas a sua esposa e companheira, embora não possa saber o que seja, por depender da mulher revelar. Porquanto, sendo o espírito o NOVO, não há como o homem avaliar o valor que nela pressente. Daí, terrenalizando-o, situa-o como uma só “pérola” dentre tantas que “sabe” que a mulher, em si, possui e que poderá lhe oferecer.
4:10) “Que belo são teus amores, minha irmã, noiva minha; teus amores são melhores do que o vinho, mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes”.
4:1O) Mas, devido a estar desamparado do auxilio que o nortearia à Luz, o noivo enfatiza o prazer sensual, refletindo o unilateral enfocar do único interesse que a mulher soube nele despertar até então, o físico, para tanto, utilizando-se ainda de expedientes que a tornem ainda mais desejável, perfumes etc. As comparações, (“mais do que o vinho / “ aromas”, ressaltam a presença dominante daquele que é o único capacitado a proceder a avaliações comparativas, o intelecto, por esse ater-se ao mundo dual. Comparações, somente são possibilitadas com base na visão dualista que abriga o referencial, enquanto o espírito somente objetiva e ativa-se no sentido do eterno, onde não há o dual, há apenas o “ser”.
4:11) “Os teus lábios, noiva minha, destilam mel! Mel e leite se acham debaixo da tua língua, e a fragrância dos teus vestidos é como a do Líbano”.
4:11) Lábios a destilarem mel e leite, indica o pressentir intuitivo do valor daquilo que poderia sair dos lábios da mulher, portanto, suas palavras norteadoras, ensinando-lhe a trilhar o rumo à Luz, algo não originado do físico, e sim, do espírito. Mas, tal nortear, ausente a intervenção da “mulher idônea”, se encontra fora do seu alcance, dessarte, os reais valores (as suas palavras de auxilio), estiveram mantidas “debaixo da sua língua”. Entrementes, mesmo a felicidade existencial continua a ser objeto da busca, de ambos, mas, como todo o DESEJO, esse também se revela insaciável, porque jamais se esgota, daí manter-se a felicidade escondida, inabordável (“se acham debaixo da sua língua”). Igualmente, a fragrância que o inebria de amor, é falseada, posto ser identificada como algo de superficial, porque permanece na “Fragrância dos teus vestidos”, logo, algo fora do seu “ser”. Portanto, a felicidade e o prazer mantêm-se fora do alcance de um pleno gozo, porque cingem-nos ao periférico, ao superficial, entretanto, intuindo, pressente que para poder atingir a desejada satisfação plena, sob o auxílio da mulher, essa haveria de se despojar da vaidade, despir o “vestido”, por ser nele que colocara sua fragrância, supondo-a seu máximo atrativo: como o “Líbano”.
4:12) “És jardim fechado, minha irmã, noiva minha, és jardim fechado, uma fonte lacrada”.
4:12) Aqui, a intuitiva constatação do noivo, que ao ver na mulher uma sua “irmã”, pressente-a uma representante da feminilidade, aquela companheira “idônea” que significa o seu intuitivamente almejado “adjutório”, como havíamos lido no Gênesis. Entretanto, por ser o NOVO, que está apenas pressentindo, a enxerga um tanto cifrada, indesvelada (“És jardim fechado”). Porque o íntimo da mulher não lhe é desvelado, está “fechado”, “fonte lacrada”, restando dela apenas uma visão superficial, ou seja, a do seu corpo, ao qual passa então a tecer elogios, como leremos a seguir. Mas, “fechado”, também indica que a felicidade que busca sob esforços e mais posses e maior poder, continua sendo inabordável, como se revela o “amor”, quando apenas carnal, sensual. E, “manancial recluso”, ou “jardim fechado”, aliado à expressão “irmã”, simboliza que o preenchimento pleno do papel que cabe a mulher, não foi pelo homem acolhido, porque sendo o NOVO, pode apenas pressenti-Io. Entretanto, como a mulher ainda não se revelou no adjutório idôneo, continua a vê-Ia apenas como a sua noiva terrena, ou seja, atendo-se ainda a desejá-Ia fisicamente, dizendo :
4:13 e 4:14) “Teus brotos são pomar de romãs com frutos preciosos: nardo e açafrão, canela, cinamomo e toda a sorte de árvores de incenso; a mirra e o aloés”. “O nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo, com toda a sorte de árvores de incenso; e mirra e aloés, com todas as principais especiarias”.
4:13/14 ) A visão existencial, sendo assim enfocada apenas pelo intelecto, induz a supor que “sua” noiva, porque avalia que a “possui”, irá perpetuar sendo eternamente a “sua” fonte de prazeres. Daí, ser simbolizada na condição das plantas e árvores, pois essas, reproduzem-se por si mesmas e mais, pois oferecem seus frutos sem nada requerer. Como, aliás, é intuitivamente expectado pelo homem, porque deseja que a mulher seja doadora, pois o amor é sempre e apenas doador. Embora na prática, enquanto distante da Luz, continue a se esforçar por granjear meios e modos de situar-se um possuidor de mais bens e poderes, para a si atraí-Ia.
Claro haver motivo para assim pensar, pois, a perspectiva acanhada que a “visão” unilateralmente calcada no raciocínio induz, não possibilita que o homem atine haver outros valores, transcendentais, tanto a serem buscados, quanto para serem encontrados, na mulher. Especiarias, não são “alimentos”, portanto, simbolizam perfeitamente essa sua visão atida às superficialidades. A unilateral concentração naquilo que é superficial, equivale, em termos de religiosidade, a aceitar a pedra no lugar do pão espiritual, algo que se pratica comumente nas igrejas onde se busca a Luz, não na ação, mas por vias inadequadas, no pedir e na ação proselitista. Mas, se a mulher não se revela aos olhos do homem em nada mais do que a fonte de prazer; e, se repudiando essa sua decepcionante atuação, que fraudou a expectativa da Luz, de idôneo auxílio, buscar por igualar-se ao homem, com ele competindo no campo do trabalho; se ao intuir que haveria de se tornar num “modelo” norteador, desviada da Luz, busca por se tornar num modelo manequim; a mulher haveria de se revelar assim como no texto, em algo equivalente às especiarias, gostosas, ao “paladar”, mas, dispensáveis.
4: 15) “A fonte do jardim é poço de água viva que jorra, descendo do Líbano!”
4:15) Como se pode depreender, devido o homem haver, intuitivamente, pressentido que a mulher é aquela que poderia indicar o Caminho à “fonte de água viva” (Verdade), contudo, sem que haja conseguido realizar esse seu almejo, encontra-se à deriva na Sua Criação, tornando-se num “errante”, num triste “fugitivo” da Luz. Por quê assim podemos interpretar? Porque lemos que o homem passou a enxergar na mulher a fonte de água viva, mas, colocando-a numa condição ainda terrena, porque, embora o Líbano seja uma das mais belas regiões do Planeta, está ainda na Terra, logo, simbolizando que anseia e busca pelo Belo, mas, sob visão intelectiva, busca-o, na matéria. E, ainda reforça o interpretado, por aludir-se á Fonte de um poço do jardim, que “desce” do Líbano, portanto, localizando-a (fonte) nos baixios.
JEREMIAS 2:13 “PORQUE DOIS MALES COMETEU O MEU POVO; A MIM ME DEIXARAM, O MANANCIAL DE ÁGUAS VIVAS, E CAVARAM CISTERNAS, CISTERNAS ROTAS, QUE NÃO RETÊM AS ÁGUAS”.
4:16) “Levanta-te vento norte, e vem tu, vento sul: assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas. Ah! venha o meu amado para o seu jardim, e coma os seus frutos saborosos !”
4:16) Por possuir tão especial condição, se avalia aquinhoada também de uma especial proteção, por isso, mesmo sem compreender o “mundo transcendente”, intuitivamente, admite-o, por pressentir ser-lhe possível contactá-Io, por intuir estar dotada das condições para tanto. E, então, solicita auxílio ao invisível, comportando-se como os “fiéis” que pedem, por “entenderem” ser a Divindade algo equivalente a um “servo prestimoso”, que cumpre todos os seus desejos, bastando pedir. Porque sendo essa uma “fala” da mulher, depreende-se que, ao ignorar a Sua Lei, “sublima” o pedir, solicitando um auxílio por meio de adventos extra-materiais, fora do humano proceder, ventos etc. Resultando em “frutos saborosos”, que o amado comerá no seu jardim.
Essa postura é, aliás, comum, pois, do mesmo modo que os endinheirados se supõem capazes de tudo, tornando-se “seguros” quanto aos seus destinos, a mulher, ao sentir-se dotada de especiais condições, ao não manter a sua ligação com a Luz, passa a fantasiosamente idear-se capacitada a conseguir tudo... na matéria. Algo que as mulheres tidas como “bonitas” evidenciam, ao exporem-se, como frutos saborosos, porém, com vistas a conseguir “frutos” para si. Outras, vergadas a uma religiosidade apenas “mental”, passam a “sublimar” os seus desejos, sem notar que erram quanto ao propósito existencial, absorvidas que estão em trabalhar para a igreja.
4:1) Agora temos a primeira fala do homem, palavras que identificam o seu desejo carnal, ante a mulher, portanto, registrando como ela se revela aos seus olhos (“como és formosa”). E, na sua própria ação, temos revelado apenas o desejo de impressioná-Ia através dos “valores” que possui e ostenta: força, poder, segurança, “amor” pelos “seus”, posses, e uma promessa de um futuro “seguro” e faustoso (“amor”). Porém, vemos nesse texto um pressentimento quanto a existir uma outra beleza, recôndita, na mulher. Mas, não a identifica, posto ainda estar encoberta (“véu”).
4:2) “São os teus dentes como o rebanho das ovelhas recém-tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma delas há sem crias”.
4:2) A mulher, para os homens atidos a coisas, assim como descrita no texto se revela, vista sob o enfoque dos seus “dotes físicos”, pois, não foram induzidos a enxergarem seu verdadeiro valor, que se encerra no fato de representar, na Terra, a feminilidade; a mulher, necessita revelar-se como a “ponte” para a Luz. Todavia, enceguecido para os reais valores, denota enxergar na mulher apenas os valores computados na Terra como “preciosos”, e requerendo-os até em dobro (gêmeos), nisso, revelando as suas expectativas de cumprir os seus desejos e prazeres, intensamente. Demais, a alusão a “gêmeos”, também indica a padronização a que foi a mulher relegada, após perder a sua condição de norteadora espiritual, que marca a sua individualidade, vista pelos homens sob um respeitoso reconhecimento, e, gratidão. Algo que, de per si, já os tornariam melhores, e, empenhados em mais melhorarem.
4:3) “Os teus lábios são como um fio de escarlate, e tua boca é formosa, as tuas faces, como romã partida, brilham através do véu”.
4:3) A beleza feminina, sendo vista pelo homem, no qual não despertou os reais valores, sob o seu aspecto menor, posto encarada apenas como uma fonte para o seu prazer. Mas, ela se agrada disso, desde que abandonou o seu “primeiro amor” (Amado, e passou a interessar-se no noivo terreno), passando a vergar-se ante os DESEJOS de poder com ele, participar do fausto e dos prazeres. Todavia, novamente o engano, o falso que encanta os intelectivos, simbolizado pelo “véu” que vimos antes encobrir seu real brilho.
4:4) “O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para arsenal; mil escudos pendem dela, todos broquéis de valorosos”.
4:4) Além do desejo de possuir uma mulher tão valorizada sensualmente, há também o desejo de mostrá-Ia aos outros como um “troféu”... Pois, apesar do exacerbado sentido de posse que os homens nutrem em relação ao que “possuam”, os mais intelectivos, somente encontram algum “valor” no que suscite o interesse ou a cobiça alheia... Por isso, também valoriza-se apenas ao que conceitualmente possa ser considerado valioso... Paradoxalmente, até mesmo para reconhecer algo de valor, em si mesmo, o homem depende da aprovação alheia, o seu intelecto assim lhe impõe. Pescoço, simboliza uma coluna, portanto, a sustentação, que ao invés de ser notada como ligada ao espiritual, passou a ser “entendida” como sustentáculo para algo terreno, simbolizado pelo “arsenal” de possibilidades para fazer da “sua” mulher algo que identifique o seu poderio material, sua “bravura” e “masculina”.
4:5) “Os teus dois seios são como duas crias, gêmeas de uma gazela, que se apascentam entre os lírios”.
4:5) O físico (“seios”), aquilo que os intelectivos homens mais enfatizam nas mulheres, continua aqui ressaltado. Porém, na tentativa de sublimar esses seus baixos desejos, “emoldurado” por uma idéia de “pureza” atida à terra ("apascentam entre lírios”).
4:6) “Antes que refresque o dia e fujam as sombras, irei ao monte de mirra e ao outeiro do incenso”.
4:6) Como acontece, mesmo que seja tocado pelo íntimo anseio, por causa do entusiasmo produzido pela “posse” de uma bela mulher (sensualmente desejável), o homem sempre deixa para depois a sua busca espiritual. Porque, ausente do norteamento que somente a mulher adequada pode lhe oferecer, passa a supor que sempre haverá tempo ("Antes que fujam as sombras”), para então, com tranqüilidade, interessar-se pelo “mundo espiritual”. Porém, devido ao enfoque atido ao tempo/espaço, quando supõe buscar o Espiritual, apresenta DESEJOS (“irei ao monte de mirra e ao outeiro do incenso..”) Pois, por supor sempre haver tempo para “essas coisas”, busca “primeiro”, cumprir ao que conceitua ser o seu “dever”, mas, que na realidade são DESEJOS, porque interessa-lhe sobressair dentre outros e, mormente, aos olhos da mulher, a fim de que essa se interesse por ele, para “possui-Ia”. E, assim desviado do Caminho à Luz, se e quando sozinho se dispõe a buscar algo de real valor, ainda buscará apenas pelas coisas “sublimadas” pelos “doutrinadores”, ("mirra e incenso”).
4:7) “Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito”
4:7) Para os dominados pelo intelecto, os que somente vêem aquilo que “fala” aos sentidos, culminam por não encontrar nada de “errado” em uma mulher, se o seu físico é “sem defeito”
4:8) “Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olhar do cume de Amaná, do cume de Senir e de Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos”.
4:8) O homem que busca na matéria a satisfação dos seus DESEJ OS, propenderá a constituir ideais relacionados a lugares, pessoas, novas emoções e, muitas outras COISAS a serem vistas ou revistas, dentro de toda a gama de perspectivas materialistas. Sendo que com todo esse seu esforço e procura, objetiva a “segurança” de uma prazerosa usufruição dessas suas posses materiais. Mas, havendo ainda um outro aspecto a ser ressaltado, o de que o homem sempre passa a “criar” os seus próprios obstáculos, a fim de superá-Ios, porque somente assim se sente “vivo”. No caso, havendo também o interesse de impressionar a mulher, sob atrativas “iscas”, pretendendo se mostrar poderoso e capacitado, “melhor”, por estar sobre (“cume”) os outros poderosos (leões e leopardos).
4:9) “Roubaste o meu coração minha irmã, noiva minha, roubaste o meu coração com um só dos teus olhares, com uma só Pérola do seu colar”.
4:9) A personagem masculina, o noivo, se impressiona com a mulher, embora a ele se mostre valiosa apenas a seus olhos carnais, todavia, na declaração, “com um só dos teus olhares”, evidencia-se a íntima noção do real valor que poderá encontrar na “noiva” amada. E, ao designá-Ia de “irmã”, simboliza haver pressentido que o papel da mulher que deseja, abarca a algo mais do que ser apenas a sua esposa e companheira, embora não possa saber o que seja, por depender da mulher revelar. Porquanto, sendo o espírito o NOVO, não há como o homem avaliar o valor que nela pressente. Daí, terrenalizando-o, situa-o como uma só “pérola” dentre tantas que “sabe” que a mulher, em si, possui e que poderá lhe oferecer.
4:10) “Que belo são teus amores, minha irmã, noiva minha; teus amores são melhores do que o vinho, mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes”.
4:1O) Mas, devido a estar desamparado do auxilio que o nortearia à Luz, o noivo enfatiza o prazer sensual, refletindo o unilateral enfocar do único interesse que a mulher soube nele despertar até então, o físico, para tanto, utilizando-se ainda de expedientes que a tornem ainda mais desejável, perfumes etc. As comparações, (“mais do que o vinho / “ aromas”, ressaltam a presença dominante daquele que é o único capacitado a proceder a avaliações comparativas, o intelecto, por esse ater-se ao mundo dual. Comparações, somente são possibilitadas com base na visão dualista que abriga o referencial, enquanto o espírito somente objetiva e ativa-se no sentido do eterno, onde não há o dual, há apenas o “ser”.
4:11) “Os teus lábios, noiva minha, destilam mel! Mel e leite se acham debaixo da tua língua, e a fragrância dos teus vestidos é como a do Líbano”.
4:11) Lábios a destilarem mel e leite, indica o pressentir intuitivo do valor daquilo que poderia sair dos lábios da mulher, portanto, suas palavras norteadoras, ensinando-lhe a trilhar o rumo à Luz, algo não originado do físico, e sim, do espírito. Mas, tal nortear, ausente a intervenção da “mulher idônea”, se encontra fora do seu alcance, dessarte, os reais valores (as suas palavras de auxilio), estiveram mantidas “debaixo da sua língua”. Entrementes, mesmo a felicidade existencial continua a ser objeto da busca, de ambos, mas, como todo o DESEJO, esse também se revela insaciável, porque jamais se esgota, daí manter-se a felicidade escondida, inabordável (“se acham debaixo da sua língua”). Igualmente, a fragrância que o inebria de amor, é falseada, posto ser identificada como algo de superficial, porque permanece na “Fragrância dos teus vestidos”, logo, algo fora do seu “ser”. Portanto, a felicidade e o prazer mantêm-se fora do alcance de um pleno gozo, porque cingem-nos ao periférico, ao superficial, entretanto, intuindo, pressente que para poder atingir a desejada satisfação plena, sob o auxílio da mulher, essa haveria de se despojar da vaidade, despir o “vestido”, por ser nele que colocara sua fragrância, supondo-a seu máximo atrativo: como o “Líbano”.
4:12) “És jardim fechado, minha irmã, noiva minha, és jardim fechado, uma fonte lacrada”.
4:12) Aqui, a intuitiva constatação do noivo, que ao ver na mulher uma sua “irmã”, pressente-a uma representante da feminilidade, aquela companheira “idônea” que significa o seu intuitivamente almejado “adjutório”, como havíamos lido no Gênesis. Entretanto, por ser o NOVO, que está apenas pressentindo, a enxerga um tanto cifrada, indesvelada (“És jardim fechado”). Porque o íntimo da mulher não lhe é desvelado, está “fechado”, “fonte lacrada”, restando dela apenas uma visão superficial, ou seja, a do seu corpo, ao qual passa então a tecer elogios, como leremos a seguir. Mas, “fechado”, também indica que a felicidade que busca sob esforços e mais posses e maior poder, continua sendo inabordável, como se revela o “amor”, quando apenas carnal, sensual. E, “manancial recluso”, ou “jardim fechado”, aliado à expressão “irmã”, simboliza que o preenchimento pleno do papel que cabe a mulher, não foi pelo homem acolhido, porque sendo o NOVO, pode apenas pressenti-Io. Entretanto, como a mulher ainda não se revelou no adjutório idôneo, continua a vê-Ia apenas como a sua noiva terrena, ou seja, atendo-se ainda a desejá-Ia fisicamente, dizendo :
4:13 e 4:14) “Teus brotos são pomar de romãs com frutos preciosos: nardo e açafrão, canela, cinamomo e toda a sorte de árvores de incenso; a mirra e o aloés”. “O nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo, com toda a sorte de árvores de incenso; e mirra e aloés, com todas as principais especiarias”.
4:13/14 ) A visão existencial, sendo assim enfocada apenas pelo intelecto, induz a supor que “sua” noiva, porque avalia que a “possui”, irá perpetuar sendo eternamente a “sua” fonte de prazeres. Daí, ser simbolizada na condição das plantas e árvores, pois essas, reproduzem-se por si mesmas e mais, pois oferecem seus frutos sem nada requerer. Como, aliás, é intuitivamente expectado pelo homem, porque deseja que a mulher seja doadora, pois o amor é sempre e apenas doador. Embora na prática, enquanto distante da Luz, continue a se esforçar por granjear meios e modos de situar-se um possuidor de mais bens e poderes, para a si atraí-Ia.
Claro haver motivo para assim pensar, pois, a perspectiva acanhada que a “visão” unilateralmente calcada no raciocínio induz, não possibilita que o homem atine haver outros valores, transcendentais, tanto a serem buscados, quanto para serem encontrados, na mulher. Especiarias, não são “alimentos”, portanto, simbolizam perfeitamente essa sua visão atida às superficialidades. A unilateral concentração naquilo que é superficial, equivale, em termos de religiosidade, a aceitar a pedra no lugar do pão espiritual, algo que se pratica comumente nas igrejas onde se busca a Luz, não na ação, mas por vias inadequadas, no pedir e na ação proselitista. Mas, se a mulher não se revela aos olhos do homem em nada mais do que a fonte de prazer; e, se repudiando essa sua decepcionante atuação, que fraudou a expectativa da Luz, de idôneo auxílio, buscar por igualar-se ao homem, com ele competindo no campo do trabalho; se ao intuir que haveria de se tornar num “modelo” norteador, desviada da Luz, busca por se tornar num modelo manequim; a mulher haveria de se revelar assim como no texto, em algo equivalente às especiarias, gostosas, ao “paladar”, mas, dispensáveis.
4: 15) “A fonte do jardim é poço de água viva que jorra, descendo do Líbano!”
4:15) Como se pode depreender, devido o homem haver, intuitivamente, pressentido que a mulher é aquela que poderia indicar o Caminho à “fonte de água viva” (Verdade), contudo, sem que haja conseguido realizar esse seu almejo, encontra-se à deriva na Sua Criação, tornando-se num “errante”, num triste “fugitivo” da Luz. Por quê assim podemos interpretar? Porque lemos que o homem passou a enxergar na mulher a fonte de água viva, mas, colocando-a numa condição ainda terrena, porque, embora o Líbano seja uma das mais belas regiões do Planeta, está ainda na Terra, logo, simbolizando que anseia e busca pelo Belo, mas, sob visão intelectiva, busca-o, na matéria. E, ainda reforça o interpretado, por aludir-se á Fonte de um poço do jardim, que “desce” do Líbano, portanto, localizando-a (fonte) nos baixios.
JEREMIAS 2:13 “PORQUE DOIS MALES COMETEU O MEU POVO; A MIM ME DEIXARAM, O MANANCIAL DE ÁGUAS VIVAS, E CAVARAM CISTERNAS, CISTERNAS ROTAS, QUE NÃO RETÊM AS ÁGUAS”.
4:16) “Levanta-te vento norte, e vem tu, vento sul: assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas. Ah! venha o meu amado para o seu jardim, e coma os seus frutos saborosos !”
4:16) Por possuir tão especial condição, se avalia aquinhoada também de uma especial proteção, por isso, mesmo sem compreender o “mundo transcendente”, intuitivamente, admite-o, por pressentir ser-lhe possível contactá-Io, por intuir estar dotada das condições para tanto. E, então, solicita auxílio ao invisível, comportando-se como os “fiéis” que pedem, por “entenderem” ser a Divindade algo equivalente a um “servo prestimoso”, que cumpre todos os seus desejos, bastando pedir. Porque sendo essa uma “fala” da mulher, depreende-se que, ao ignorar a Sua Lei, “sublima” o pedir, solicitando um auxílio por meio de adventos extra-materiais, fora do humano proceder, ventos etc. Resultando em “frutos saborosos”, que o amado comerá no seu jardim.
Essa postura é, aliás, comum, pois, do mesmo modo que os endinheirados se supõem capazes de tudo, tornando-se “seguros” quanto aos seus destinos, a mulher, ao sentir-se dotada de especiais condições, ao não manter a sua ligação com a Luz, passa a fantasiosamente idear-se capacitada a conseguir tudo... na matéria. Algo que as mulheres tidas como “bonitas” evidenciam, ao exporem-se, como frutos saborosos, porém, com vistas a conseguir “frutos” para si. Outras, vergadas a uma religiosidade apenas “mental”, passam a “sublimar” os seus desejos, sem notar que erram quanto ao propósito existencial, absorvidas que estão em trabalhar para a igreja.
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